É ou deveria ser oficial, até para os profissionais: o Mundo anda com as prioridades invertidas. Só assim se explica que depois de contratar o Rufus para um concerto que normalmente duraria três horas, os organizadores lhe pedissem para comprimir a coisa para hora e meia, porque, pasme-se (outra das minhas palavras preferidas), para a segunda parte (hum: Rufus a fazer uma primeira parte? Era aí, como se verá, que eu deveria ter começado a desconfiar, mas tenho a alma demasiado pura…) ainda tinha que actuar uma tal de Dolores O’Riordan (perguntam vocês e com razão: quem?) … A coisa desenrola-se num ambiente muito chique de café concerto, com o público sentado à volta de umas mesas com umas luzinhas ao centro, tudo devidamente filmado por uma televisão qualquer e patrocinado por uma marca de charutos. Não é pois de admirar – mas atenção: talvez esteja a ser injusto – que metade da beautiful people ali presente (e aqui dou a mão à palmatória: quase todos os convivas eram muito mais giros que eu) estivesse ali só muito remotamente para ver e ouvir o Rufus e mais imediata e fundamentalmente para ser vista. Ainda assim, o concerto, mesmo em formato reduzido, foi excepcional e o Rufus absolutamente profissional, mesmo que não se tenha contido de gozar fininho com o público de Basel, essa cidade “where Art meets Money”, como ele disse com aquele tom de voz deliciosamente afectado. Tivemos até direito ao grand finale, com o Rufus devidamente aperaltado em Judy Garland e rodeado pelo corpo de baile de fortuna, isto é, os membros da banda. Depois de hora e meia de Rufus, senti-me muito mais reconfortado e, já com a Heineken da ordem no bucho, até me sentei de novo para ouvir uma ou duas canções da tal Dolores. E foi aí – quando vi a multidão ululante acolher entusiasticamente a suposta diva, que toca assim uma coisa tipo "rock celta meets Aerosmith", que mete dó de tão banal – que a minha confiança na Humanidade ficou irremediavelmente afectada: só nesse momento percebi que aquela malta estava afinal ali para a Dolores e que teria aplaudido o Rufus mais por educação que por vontade. Portanto – e para concluir – eu não sou de massacres, mas que a Humanidade está sobrestimada parece-me uma evidência.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário