31 de janeiro de 2008

Cientologia, seitas, religiões e postas demasiado longas

Separemos o essencial do acessório. Esta posta do Tempo das Cerejas (vejo agora também esta, que se refere a uma outra do Da Literatura que eu não encontrei) – a que cheguei depois destas duas (aqui e aqui) preocupações do Daniel Oliveira – conta uma história que, sendo lamentável, não é nem nova nem sequer exclusiva da cientologia. Histórias similares aconteceram já, e continuam a acontecer, com uma miríade de outras associações do género, e há muito por onde escolher: raelitas, maná, reino de deus, todas, em maior ou menor grau, praticam o mesmo grau de criação de dependência absoluta dos fiéis. Algumas delas são suspeitas de outros actos que relevam do direito penal: fraudes variadas, abusos sexuais, lenocínio, etc. Aliás, a igreja católica também não escapa ao direito penal: ou melhor, lá vai conseguindo escapar graças a chorudas indemnizações e ao exílio mais ou menos forçado de alguns dos seus representantes mais apreciadores de actos ilícitos com criancinhas.

Mas é justamente para lidar com coisas destas que existe o aparelho repressivo do Estado. Essencial é que as autoridades públicas intervenham sempre que existam suspeitas da prática de actos menos claros por qualquer associação de tipo religioso. E, obviamente, deverão fazê-lo independentemente de tais associações estarem ou não inscritas num qualquer registo de religiões: a única coisa a ter em conta não é se são seitas ou religiões; é saber se praticaram ou não ilícitos penais.

Agora o acessório. Alega-se a qualidade de seita da cientologia. Muito bem. Não vou teorizar sobre a diferença entre religiões e seitas. Sei que existem muitos e válidos critérios, que são aliás utilizados, um pouco por toda a Europa, por organismos semelhantes à nossa Comissão da Liberdade Religiosa, para separar as águas.

Não resisto porém a dizer que para mim é simples: todas são seitas. Algumas apenas tiveram maior sucesso que outras. Por exemplo, andar em grupinhos nas catacumbas a desenhar peixes nas paredes e a rezar a um só deus não podia senão - para a religião oficial politeísta dos romanos - parecer uma seita. 2000 anos depois, esta seita – a cristã, como adivinharam – é a que mais sucesso teve e apresenta ainda, nas suas várias ramificações (católicos, protestantes, etc.) posição dominante no mercado das almas, embora com uma concorrência cada vez maior da outra grande multinacional do sector – os muçulmanos – e sofrendo um sério ataque, devido a um marketing muito agressivo com utilização criteriosa e inteligente das estrelas de cinema de Hollywood, das seitas new age: budistas, cientologistas, etc. Mas isto, repito, sou só eu a falar. E como sou ateu a minha opinião não conta grande coisa.
Uma coisa sei: negar à cientologia a inscrição no registo de religiões é, apenas e só, concorrência desleal em favor das outras associações que disputam este grande mercado das almas.

Claro, já foi tentado por outros. Por exemplo, a grande democracia russa negou a inscrição no registo competente, através de um processo muito semelhante ao português, justamente à cientologia. O resultado foi isto. Para quem não tiver paciência para ler, eu resumo: condenação da Rússia no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem por violação da liberdade de associação e religiosa.

Posta demasiado longa, não foi? Pois, sou ateu mas sei quando devo pedir perdão.

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