Um dos grandes problemas de ter vivido um – chamemos-lhe incidente – durante o período natalício é a quase obrigação de descrever o rumo dos acontecimentos a quem nos pergunta como passámos as Festas. Isto é mais difícil do que parece. Com efeito, deparam-se-nos em geral três hipóteses: a) não contar nada e responder o tradicional “correu bem”; b) fazer um breve resumo, desvalorizando implicitamente a importância do acontecimento; c) contar detalhadamente o que aconteceu.
Se a escolha de uma destas três hipóteses é já uma operação delicada, tudo se complica quando devemos adaptar cada uma destas versões à pessoa que nos coloca a pergunta. Atente-se no seguinte: se o nosso interlocutor tem um certo grau de intimidade, embora não do primeiro círculo, connosco, será admissível responder, sem mais, “correu bem”? E quando outra pessoa da mesma categoria – isto é, um não membro do primeiro círculo – lhe contar no dia a seguir “e então, que me dizes do que aconteceu ao bloom?”, como é que nos vamos safar da justa indignação do amigo que foi deixado no desconhecimento das peripécias bloomianas de Natal? É duvidoso que a explicação que primeiro nos ocorre – a distância que nos separa do acontecimento é inversamente proporcional à quantidade de tempo e à profusão de detalhes que estamos dispostos a dar – consiga salvar-nos de uma embaraçosa reprimenda.
Por outro lado, dar a versão c) – detalhada e sumarenta – a quem conhecemos superficialmente vai pôr o nosso interlocutor a morrer de tédio, pensando enquanto consulta não muito discretamente o relógio “mas o que é me interessa saber o que aconteceu a este palhaço?”
E assim comecei 2009, mergulhado na angústia, na dúvida e, infelizmente, na repetição.
Se a escolha de uma destas três hipóteses é já uma operação delicada, tudo se complica quando devemos adaptar cada uma destas versões à pessoa que nos coloca a pergunta. Atente-se no seguinte: se o nosso interlocutor tem um certo grau de intimidade, embora não do primeiro círculo, connosco, será admissível responder, sem mais, “correu bem”? E quando outra pessoa da mesma categoria – isto é, um não membro do primeiro círculo – lhe contar no dia a seguir “e então, que me dizes do que aconteceu ao bloom?”, como é que nos vamos safar da justa indignação do amigo que foi deixado no desconhecimento das peripécias bloomianas de Natal? É duvidoso que a explicação que primeiro nos ocorre – a distância que nos separa do acontecimento é inversamente proporcional à quantidade de tempo e à profusão de detalhes que estamos dispostos a dar – consiga salvar-nos de uma embaraçosa reprimenda.
Por outro lado, dar a versão c) – detalhada e sumarenta – a quem conhecemos superficialmente vai pôr o nosso interlocutor a morrer de tédio, pensando enquanto consulta não muito discretamente o relógio “mas o que é me interessa saber o que aconteceu a este palhaço?”
E assim comecei 2009, mergulhado na angústia, na dúvida e, infelizmente, na repetição.
2 comentários:
eu passei o fim de ano a dormir...
belíssimo programa!
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