1 de fevereiro de 2008

Rebirth of Kitsch (2)

Quem diria que eu alguma vez gostaria de uma canção onde a dada altura se eleva um coro de vozes femininas etéreas cantando mais ou menos isto: Did I say that I love you? Did I say that I want to Leave it all behind? E, no entanto, desde que a ouvi em banda sonora do filme Closer, fiquei ouvinte atento e deliciado da canção The blower’s daughter (do álbum O) de Damien Rice.
Em minha defesa, poderei avançar que o caso muda um pouco de figura quando a gente se dá afinal conta que o cantautor não diz “love” mas “loathe”, o que, convenhamos, muda completamente o sentido da canção.
Ainda assim, não há desculpa para o amante de música alternativa que, tomado por um ataque de loucura que se espera temporária, confessa gostar de um tema que reúne todas as condições do kitsch: melodia jeitosa, arranjos lamechas, violoncelos manhosos e coros femininos – lá está – etéreos. E todavia ….
E todavia eis uma canção que posso ouvir, sem problemas, 2 ou 3 vezes seguidas, sem nunca deixar de me encantar pelo universo sonoro, entre folk vagamente celta (terei já dito aqui que detesto música celta?) e rock sinfónico (ai, que eu também ouvi ELP e Renaissance, mea culpa mea culpa), que Rice vai criando lentamente, de maneira quase insidiosa, até nos apanhar na sua teia melódica diabólica.
Tenho dito a mim próprio, em processo acelerado de auto-desculpabilização, que a culpa é da cena final de Closer – aliás filme medíocre – quando Natalie Portman é filmada em slow motion (à la Sam Peckinpah mas sem os tiros), brilhando entre a multidão anónima, ao som dos últimos acordes do tema em questão.
Não sei, pode ser…


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