Confesso que me tem causado alguma perplexidade um trailer que tem passado na SIC, anunciando uma série sobre uma suposta vida privada de Salazar. No trailer, o velho ditador aparece, em pose de sedutor, com várias mulheres, todas – cada uma no seu estilo – giraças e atiradiças. O nosso ditador não se faz rogado: como é impossível resistir a tanto charme, ele é mãozinha malandra na coxa, ele é beijinho no pescoço e com certeza outras actividades mais próprias da bolinha vermelha que dos manuais de Finanças Públicas que o lente de Coimbra tanto prezava. Poderá com efeito causar algum espanto esta nova imagem do Presidente do Conselho, cuja vida (a)sexual conhecida passava, até agora, pelos serões em São Bento com a Dona Maria. Erro meu, pois com um pouco de reflexão, tudo se explica. Com efeito, a direita clássica saudosa da lei, da ordem e do respeitinho sempre gostou de Salazar: essa está conquistada. A classe média, mesmo farta do regabofe supostamente democrático, tem hesitações naturais quando toca a apoiar um ditador; mas afasta a má consciência convencendo-se que se trata, apenas e só, de uma personagem histórica, tão asséptica quanto D. Dinis ou D. Sancho II; pois se até a televisão disse que foi Salazar o maior português de sempre! Faltava pois a jovem direita arrogante, de faca nos dentes e Burke no bolso do blazer. Então podia alguma vez um grande ditador como o nosso Oliveira ser um quase capado, um daqueles gajos de cabelo grisalho que aparece nos intervalos dos jogos da Sport TV pedinchando por um milagre contra a disfunção eréctil? Obviamente, não podia. Salazar é tão, tão grande que até o lendário celibato é enganador: o homem era um engatatão, o Brad Pitt de Santa Comba, pronto, com uma simples inclinação da cabeça, a fazê-las suspirar. Rapidamente e em força.
Salazar (formerly known as Hef) posa entre deus, pátria e família
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