3 de abril de 2008

Isto anda tudo ligado

Jarhead, que só agora vi, é um filme medíocre. Mas tem duas cenas marcantes. Na primeira, Swoff e os colegas marines vibram com a exibição de Apocalypse Now na caserna. Cantam em coro a famosa cena das Valquírias, quando os helicópteros atacam a aldeia, e aplaudem em delírio quando os soldados americanos alvejam os civis vietnamitas. Na segunda, quando Swoff e os outros soldados do seu pelotão se encontram já no Golfo, um dos camaradas recebe da mulher a cassette que julgam conter O Caçador. Todos se preparam para ver o filme, mas têm apenas tempo para ouvir os célebres acordes iniciais de guitarra que acompanham o genérico: a cassete contém afinal as imagens da mulher do soldado em causa a ser penetrada pelo vizinho, no sofá da sala do domicílio familiar.
Estas duas cenas, que se referem aos dois grandes filmes americanos sobre a guerra do Vietname, pretendem obviamente confrontar o espectador com os efeitos da inexorável passagem do tempo sobre determinados símbolos, que julgávamos inamovíveis na sua sacralidade. Nos anos 90 – a acção de Jarhead tem lugar durante a primeira Guerra do Golfo – nem Apocalypse Now continua a ser um manifesto anti-guerra nem o Caçador uma ode à família do soldado que regressa a casa.
A questão que continua por resolver é a seguinte: são os símbolos (ou a imagem que deles nós fazemos) que se pervertem ou contêm eles próprios – desde o início – os germes da sua própria (des)interpretação?
Por outras palavras, tudo pode ser isso mesmo e o seu contrário?

Tinha algo mais para dizer a este respeito, mas agora falta-me o tempo, tenho que ir ali ao PES 2008 vergar o Glasgow Rangers à esmagadora superioridade do Sporting.

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