24 de junho de 2009

Entretanto, na TVI

Segunda-feira à noite, no percurso entre a cozinha e o quarto, deparei-me com mais um episódio de Equador, em que aquela rapariga que se apaixonou pelo rapaz de Coimbra conversava com a sua rival. Achei estranho por: 1) não ser Domingo e 2) o pessoal dos figurinos andar drogado ou a gozar com o Miguel Sousa Tavares, pondo duas gajas que supostamente se encontram em São Tomé vestidas como se estivessem em 2009 em Lisboa. Daí a me dar conta que não estava a assistir ao Equador mas sim à nova telenovela da TVI foi um doloroso e relativamente longo passo. Mas o que interrompeu a minha viagem (da cozinha para o quarto, como se lembrarão) foi o momento em que a tal rapariga-que-não-é-filha-do-dono-da-farmácia-do-Equador dizia à amiga, com ar compungido, “sou adoptada”. Este facto, em si, não é suficientemente importante para merecer uma posta de blog (quiçá um comentário) mas fez-me reflectir numa questão que não terá sido ainda suficientemente estudada por todos os que se interessam por fenómenos sociais (nem pelos que não se interessam, agora que penso nisso). Segundo as minhas observações, que confesso serem meramente empíricas e logo sem qualquer valor estatístico, a taxa de crianças adoptadas nas telenovelas é consideravelmente superior à taxa de crianças adoptadas, digamos (e agora vou utilizar um termo ao qual minha mãe é particularmente afeiçoada), na vida real. Penso que a ratio telenovela-vida real não deverá andar longe do 10 para 1 (para os menos inteligentes, a 1 criança adoptada na vida real corresponderia … pois, estão a ver, não é?). Alguns, menos imaginativos, dirão que tal sucede devido às possibilidades narrativas que proporciona uma boa história de criança adoptada, com a legião de quiproquós, encontros e reencontros que inevitavelmente ela acarreta. Nada menos certo. Mais que um artifício de guionista de Cascais, a inflação de adoptados nas telenovelas da TVI é um verdadeiro marco civilizacional, é o reivindicar dos novos modelos de família, é, em suma, a consciência de, aqui e agora, obrar por um mundo melhor. Daí a minha singela homenagem a este simpático canal televisivo.


- Que queres que te diga? Sim, foste adoptado...

1 comentário:

aquelabruxa disse...

lol! estou a ver que as telenovelas portugueas continuam muito boas e a rodar à volta de assuntos interessantes e relevantes da sociedade portuguesa actual... not!