10 de dezembro de 2009

Climatologista, muçulmano e gay

Num daqueles debates de que só a blogosfera detém o segredo, discute-se se ter mulher-a-dias é um traço distintivo da classe média. Este tema, independentemente do seu interesse intrínseco, teria a vantagem teórica de poder despertar as virtudes de polemista da blogosfera reaça, que proporciona regularmente momentos de diversão para toda a família. Infelizmente, por uma daquelas coincidências temporais dignas do teatro de boulevard, esta polémica tão promissora fez pscchtt, como o balão que se esvazia, assim que entrou em cena a cimeira de Copenhaga e a grande conspiração dos ecologistas, que tentam enganar o mundo inteiro convencendo-nos que isso do aquecimento global é pouco mais que uma história da carochinha. Obviamente, isto não surpreende ninguém. Os que querem defender a integridade científica contra os alarmistas ecologistas que nos tentam enganar são os mesmos que nos têm alertado contra os perigos dos integristas muçulmanos, cujas hordas bárbaras estariam prestes a desembarcar em Lisboa, de cutelo na mão para excisar as nossas raparigas ocidentais, depois de as fechar em esconsos minaretes, dignos das masmorras da Bastilha. São os mesmo que há tanto tempo nos avisam dos malefícios do lóbi gay, que está aí prestes a descaracterizar a nossa querida civilização judaico-cristã e a esterilizar de facto a espécie humana, condenada a lentamente definhar. Esta gente encontrou o personagem que povoa os seus mais terríveis pesadelos: um climatologista da universidade de East Anglia, muçulmano, barbudo e gay.
Dito isto, porquê persistir em repetir evidências? Mais vale ir reler isto, que quase – digo bem quase – me fez arrepender de não ter votado nele.

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