28 de agosto de 2009

Da superioridade da melga estrangeira

É a espera pela melga estrangeira (coliseta argentoratum) que marca o fim do Estio.
Quando, pelas 3 da manhã de uma noite no pino de Agosto, somos acordados pelo zumbir de uma melga nacional (coliseta lusitana), temos apenas que apanhar molemente o jornal que lemos na véspera e fazer pontaria à pobre e estúpida melga acabadinha de pousar no branco imenso de uma parede branca alentejana. Se não fizéssemos tanta questão de vingar a mordidela que a melga acabou de fazer no nosso cotovelo esquerdo, teríamos quase pena de massacrar animal tão estúpido, quiçá entorpecido pelo calor e pelo repasto sanguíneo com que acabou de se deleitar. Missão que cumprimos no entanto sem estados de alma e de que restará apenas uma mancha vermelha escura no branco da cal da parede.
Já chegados ao estrangeiro, somos acordados à mesma hora pela melga estrangeira. Só que, quando acendemos a luz, não há meio de pôr a vista em cima do insecto relapso, que se esconde, pérfido e insidioso, talvez entre as cortinas da janela ou aproveitando as florzinhas do papel de parede beige para se esconder. E ali ficamos nós, desamparados e de pantufa na mão, à procura de uma melga de superior inteligência que não mais se mostrará. Até nada mais nos restar senão apagar a luz e oferecer o nosso corpo indefeso às picadelas do pequeno monstro.
Antes de adormecer, ficamos a reflectir no atraso estrutural português e na superioridade da melga estrangeira sobre a melga nacional. O que é tão ou mais perturbador que a incapacidade porventura genética do Djaló controlar decentemente uma bola que seja.

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